2 de mai. de 2013

Evangélicos realizam Consulta para tratar sobre a corrupção que aflige o Brasil



Fonte: Aliança Cristã Evangélica
A corrupção é um câncer social que, de alguma forma afeta toda a sociedade. Os mais ricos não a percebem. Os mais pobres são mais penalizados. E ambos talvez não tenham a exata noção do mal em que se constitui para a sociedade como um todo.
Na verdade, Deus sempre chamou seu povo para apoiar os grupos mais vulneráveis da sociedade e buscar a justiça, como em Isaías 1.17 e 59.15. O profeta Miquéias condena o abuso dos tribunais por defraudarem as pessoas tomando seus meios de vida (Mq 2.2.), o abuso dos cargos públicos através do suborno (3.11), as riquezas adquiridas através de práticas comerciais desonestas (6.10, 11) e a conspiração das pessoas no poder para o seu próprio benefício (7.3).
Por isso um grupo de cerca de 60 evangélicos de todo o Brasil, esteve reunido nos dias 26 e 27 de abril, em Brasília, DF, para participar de uma Consulta sobre Governança Pública e Transparência. A Consulta foi uma iniciativa de um coletivo de várias entidades, entre elas Aliança Cristã Evangélica Brasileira, Rede Fale, Tearfund, Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS), Movimento das Igrejas Ecocidadãs, ministério Jeame,  Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB), A Rocha, Ação Evangélica (ACEV), CADI, Ecoliber, Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil (ANNEB)  e  Evangélicos Pela Justiça (EPJ). O evento também contou com o apoio da Secretaria de diálogos sociais, da Secretaria da Presidência da República.
Contribuíram para a consulta, ao longo da programação,  várias pessoas de órgãos públicos e organizações que procuram agir em combate à corrupção no Brasil. Através de diferentes painéis e mesas, a Consulta contou com a presença e participação de Márcio Rabat, assessor parlamentar há 20 anos, Pedro Gontijo, da Comissão Brasileira de Justiça e Paz da CNBB, Daniel Avelino, da Secretaria Nacional de Articulação Social, José Moroni, pesquisador do Inesc, Fernanda Montenegro Calado, do Tribunal de Contas do DF, Henrique Ziller, do TCU e do programa Auditoria Cidadã, Antonio Agusto, da Transparência Brasil, Lizete Verillo, da Amarribo Brasil.
A “corrupção diante de nossa fé” foi o tema de um painel próprio, que contou a contribuição de Lyndon Araújo, pastor congregacional, doutor em história, professor universitário, e Daniel de Almeida e Souza Jr., pastor batista e missionário da Sepal. (Veja o texto da contribuição do Pr. Daniel neste link.) Além de Lyndon e Daniel, da liderança da Aliança Evangélica também participaram os pastores José Carlos da Silva e Thiago Tom . Os dois momentos devocionais do programa contaram com a contribuição do pastor Wilson Costa, pastor presbiteriano e diretor executivo da Aliança Evangélica, e do pastor Júlio Borges, da Igreja Cristã de Brasília.
Ao final da Consulta foram indicadas várias ações a serem implementadas ao longo do restante de 2013 e em 2014, num horizonte de curto prazo, para levar os evangélicos brasileiros a considerarem este assunto como um desafio pertinente à vida e ao testemunho cristãos, de maneira que oremos sobre o assunto, atuemos quanto à corrupção que causa tantos males a nossa sociedade e evitemos também o pecado da omissão quanto a isso.


Um pouco mais sobre corrupção
Corrupção pode ser definida como “abuso de poder para o benefício próprio à custa de outros ou da sociedade como um todo”. Este abuso de poder pode ser exercido por pessoas, por grupos, por organizações, por empresas e corporações.
Geralmente associada à corrupção está o suborno, que pode ser definido por “oferecimento, concessão ou promessa de vantagem financeira ou de outro tipo para induzir o receptor a desempenhar suas funções ou atividades indevidamente ou recompensá-lo por já o ter feito”.
Segundo o diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo, e Gil Castello Branco, diretor-executivo do Contas Abertas, é muito difícil quantificar a corrupção por causa de sua própria natureza. Mas um estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, de 2010, estimou que ele fica entre R$ 50 bi a R$ 85 bi por ano. Isso corresponde a 2,3% de toda riqueza produzida no Brasil em um ano. É muito dinheiro!
Além do aspecto social que a todos nos importa como cidadãos e cidadãs, a corrupção toca em aspectos fundamentais da fé cristã. Onde há corrupção, há corrompidos e corruptores. É uma manifestação de injustiça. Do lado do corruptor há clara manifestação de desonestidade e também de abuso de poder econômico, ao usar do dinheiro para obter um favor, uma facilitação ou uma vantagem ilegal. Do lado do corrompido, há também desonestidade associada à ganância, que o leva ao ganho indevido e muitas vezes ilegal.
É comum acreditar que nada possa ser feito para mudar a situação, que o problema seja demasiadamente grande e que os perpetradores sejam simplesmente poderosos demais. Embora estes problemas, sem dúvida, representem grandes desafios, a igreja, os cidadãos comuns e as organizações da sociedade civil podem fazer a diferença! Nesse sentido, Abramo, da Transparência Brasil, acha que a pergunta mais importante que deve ser feita é o que fazer para combater a corrupção. 
Entre 180 países, o Brasil está na 75ª colocação, no ranking da corrupção elaborado pela Transparência Internacional. Numa escala de zero a 10, sendo que números mais altos representam países menos corruptos, o Brasil tem nota 3,7. A média mundial é 4,03 pontos. Além disso, o levantamento também traz simulações de quanto a União poderia investir, em diversas áreas econômicas e sociais, caso a corrupção fosse menos elevada. Veja abaixo o quanto poderia ser investido do dinheiro gasto em corrupção no Brasil, segundo um artigo da Revista Eletrônica Ideias (www.revistaideias.com.br):
  • Educação – O número de matriculados na rede pública do ensino fundamental saltaria de 34,5 milhões para 51 milhões de alunos. Um aumento de 47,%, que incluiria mais de 16 milhões de jovens e crianças.
  • Saúde – Nos hospitais públicos do SUS, a quantidade de leitos para internação, que hoje é de 367.397, poderia crescer 89%, que significariam 327.012 leitos a mais para os pacientes.
  • Habitação – O número de moradias populares cresceria consideravelmente. A perspectiva do PAC é atender 3.960.000 de famílias; sem a corrupção, outras 2.940.371 poderiam entrar nessa meta, ou seja, aumentaria 74,3%.
  • Saneamento – A quantidade de domicílios atendidos, segundo a estimativa atual do PAC, é de 22.500.00. O serviço poderia crescer em 103,8%, somando mais 23.347.547 casas com esgotos. Isso diminuiria os riscos de saúde na população e a mortalidade infantil.
  • Infraestrutura – Os 2.518 km de ferrovias, conforme as metas do PAC, seriam acrescidos de 13.230 km, aumento de 525% para escoamento de produção. Os portos também sentiriam a diferença, os 12 que o País possui poderiam saltar para 184, um incremento de 1537%. Além disso, o montante absorvido pela corrupção poderia ser utilizado para a construção de 277 novos aeroportos, um crescimento de 1383%.
A coalização brasileira de combate à corrupção liderada pela ONG Amarribo Brasil edita uma excelente cartilha para os interessados em saber mais sobre o tema, sob o título de “O Combate à Corrupção nas Prefeituras do Brasil”, que já está em sua 5ª edição e oferece excelentes orientações práticas de combate à corrupção e que tem funcionado em 219 municípios brasileiros.